(Romanos 1:18-32)
Paulo apresenta uma imagem desagradável. Confesso que existem alguns bairros dos quais não gosto e pelos quais evito passar. O fato de evitá-los não muda nem elimina esses lugares. A descrição que Deus faz dos pecadores não é nem um pouco bonita, mas não podemos evitá-la. Esta seção não ensina evolução (que o ser humano começou numa posição inferior e alcançou uma posição mais elevada); antes, ensina a degeneração: os seres humanos começaram em uma posição exaltada e, por causa do pecado, afundaram até um nível mais baixo que o dos animais. Essa degeneração trágica é marcada por quatro estágios.
Inteligência (w. 18-20). A história humana começou com o homem conhecendo Deus. A história humana não fala de seres irracionais, que começaram adorando ídolos e evoluíram até se transformar em homens que adoram a Deus. Muito pelo contrário: os homens começaram conhecendo a Deus, mas abandonaram a verdade e rejeitaram o Senhor. Deus revelou-se aos seres humanos pela criação, por aquilo que havia feito. Ao observar o mundo a seu redor, o ser humano poderia reconhecer a existência de um Deus com sabedoria para planejar e poder para criar. Os seres humanos também tinham consciência de que seu Criador era eterno e podiam ver "... o seu eterno poder, como também a sua própria divindade" (Rm 1:20), pois, se Deus é o Criador, então não foi criado. Esses fatos acerca de Deus não estão ocultos na criação; antes, "claramente se reconhecem" (Rm 1:20). "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (SI 19:1).
O verbo traduzido por "deter", em Romanos 1:18, também pode significar "reprimir, impedir". Os seres humanos conheciam a verdade acerca da Deus, mas não permitiram que operasse em sua vida. Reprimiram a verdade de Deus a fim de escapar de sua condenação e de viver a seu modo. O resultado, evidentemente, foi a recusa da verdade (Rm 1:21, 22) e a distorção dessa verdade numa mentira (Rm 1:25). Por fim, o ser humano abandonou a verdade e se tornou semelhante a um animal, tanto em sua forma de pensar como de viver.
Ignorância (w. 21-23). Fica evidente que os seres humanos tinham conhecimento de Deus, mas se recusaram a conhecer a Deus e a honrá-lo. Em vez de serem gratos por tudo o que Deus havia lhes dado, os seres humanos recusaram-se a lhe dar graças ou a glória que lhe era devida. Estavam dispostos a usar todas as dádivas de Deus, mas não a adorar e louvar a Deus por essas dádivas. O resultado foi um raciocínio nulo e um coração obscurecido. O adorador transformou- se em filósofo, mas sua sabedoria vazia só serviu para revelar sua insensatez. Paulo resumiu toda a história da Grécia em uma só declaração dramática: "os tempos da ignorância" (At 17:30). 1 Coríntios 1:18-31 pode ser uma leitura bastante proveitosa a esta altura de nosso estudo.
Depois de reprimir a verdade de Deus e de se recusar a reconhecer a glória de Deus, o ser humano ficou sem um deus; mas faz parte da constituição humana a necessidade de adoração. Se não adora ao Deus verdadeiro, adorará um deus falso, mesmo que ele próprio tenha de confeccioná-lo! Esse fato explica a tendência humana a se entregar à idolatria. O ser humano trocou a glória do Deus verdadeiro por deuses substitutos que ele próprio havia feito. Colocou a vergonha no lugar da glória, a corruptibilidade no lugar da incorruptibilidade, as mentiras no lugar da verdade.
É importante observar que o primeiro item da lista de falsos deuses é o homem, cumprindo, assim, o propósito de Satanás ao dizer a Eva: "como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" (Gn 3:5). Satanás encorajou o homem a exaltar a si mesmo. Em vez de os seres humanos serem feitos à imagem de Deus, fizeram deuses para si a sua própria imagem e se rebaixaram a ponto de adorar aves, insetos e outros animais!
Imoralidade (w. 24-27). Da idolatria para a imoralidade é um passo. Se o homem é seu próprio deus, então pode agir como bem entender e satisfazer todos os seus desejos sem temer qualquer julgamento. Chegamos ao auge da luta contra a verdade de Deus, quando o ser humano troca a verdade de Deus pela "mentira" e abandona a verdade inteiramente. A "mentira" é a ideia de que o ser humano é seu próprio deus, de que deve adorar e servir a si mesmo, não ao Criador. No jardim, Satanás usou a "mentira" para levar Eva a pecar: "Sereis como Deus!". Satanás sempre quis para si a adoração que é devida somente a Deus (Is 14:12-1 5; Mt 4:8-10) e, na idolatria, recebe essa adoração (1 Co 10:19-21).
O resultado dessa auto deificação foi a entrega aos próprios prazeres, e, aqui, Paulo fala de um pecado abominável, desenfreado naquela época, e que tem se tornado preponderante hoje: a homossexualidade. Trata-se de um pecado condenado repetidamente nas Escrituras (Gn 18:20 ss; 1 Co 6:9, 10; Jd 7). Paulo o caracteriza como "infame" e "contrário à natureza". Não se refere apenas aos homens, pois "até as mulheres" entregaram-se a esse pecado.
Por causa de sua transgressão, Deus "os entregou" (Rm 1:24, 26), o que significa que permitiu que continuassem pecando e que colhessem as conseqüências. Receberam "em si mesmos, a merecida punição do seu erro" (Rm 1:27). Esse é o significado de Romanos 1:18: "A ira de Deus está sendo revelada do céu" (tradução literal). Deus não revelou sua ira enviando fogo do céu, mas abandonando os pecadores à própria vida lasciva. No entanto, ainda resta mais um estágio.
Impenitência (vv. 28-32). Seria de se esperar que, quando o ser humano começasse a sentir as conseqüências trágicas de seus pecados, se arrependesse e buscasse ao Senhor; mas aconteceu justamente o contrário. Pelo fato de haver abandonado Deus, só restava ao homem corromper-se cada vez mais. Rejeitou até a presença de Deus em seu entendimento! Assim, dessa vez "Deus os entregou a uma disposição mental reprovável" (Rm 1:28), ou seja, a uma mente depravada, incapaz de discernir corretamente. Tais homens haviam se entregado inteiramente ao pecado, e Paulo cita 24 transgressões específicas que continuam sendo praticadas hoje. (Para outras listas, ver Mc 7:20-23; Gl 5:19-21; 1 Tm 1:9, 10 e 2Tm 3:2-5.)
Mas o pior ainda está por vir. Esses homens não apenas se rebelaram abertamente contra Deus e pecaram como também incentivaram outros e os aplaudiram quando fizeram o mesmo. Até que ponto o ser humano pode descer! Começou glorificando a Deus, mas acabou trocando a glória por ídolos. Começou conhecendo Deus, mas acabou recusando o conhecimento de Deus em sua mente e coração. Começou como a mais exaltada das criaturas de Deus, criada à imagem de Deus, mas terminou mais baixo do que os animais, pois adorou a essas criaturas como se fossem deuses. O veredicto? "Tais homens são, por isso, indesculpáveis" (Rm 1:20).
Esta passagem das Escrituras apresenta provas incontestáveis de que aqueles que não são salvos estão perdidos. Como disse Dan Crawford, missionário inglês na África: "Os pagãos pecam consciente e deliberadamente". Daí, a necessidade premente de levar o evangelho a todos os homens, pois essa é a única maneira de serem salvos.
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